quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Mundo de Tinta


A primeira vista o desconhecido
Tudo tão novo e sem sentido...
Como um cavaleiro errante
Vagando sem destino
Colecionando lembranças.
Mas o mundo lhe sorri
Tudo soa convidativo
Não precisa mais fugir,
Faz desse pedaço sua casa
E se por um instante
Ou por tantos outros
A emoção lhe invade
Não tema, faz parte.
Afinal quem disse que era fácil?
Esse não era o primeiro
Certamente não será o último
Colhe então os frutos doces
Sem temer a flor amarga.
E no fim dessa longa marcha
Quando tudo ficar gravado na memória,
E a saudade no coração fizer morada.
Abre de novo aquele mundo
E viva outra vez essa jornada.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Domingo de chuva



Domingo
18 de setembro de 2011
13 h e 37 m
Hoje pela manhã fui à feira com minha sobrinha desprevenida e no meio do caminho caiu uma chuvarada, então corremos para nos proteger debaixo de um toldo de uma loja. Enquanto contávamos os minutos impacientes para a chuva diminuir, surgiu uma cadela vira-lata com a pata traseira esquerda quebrada, provavelmente por atropelamento ou talvez por espancamento/ vandalismo, procurando abrigo.
Ela tinha uma aparência deprimente, o pêlo molhado era maltratado, andava com dificuldade e o pior de tudo, tinha um olhar revelador.
Ao encará-la, pude ver muita dor, indecisão, medo e acima de tudo desconfiança. Senti muita vergonha por estar ali embaixo do toldo enxuta e segura enquanto ela estava só e em busca de abrigo, chamei-a para ficar conosco e ao invés de atraí-la, a afastei. Ela se foi com muita dificuldade e pingando com o excesso de água acumulada nos pêlos. Meu remorso só aumentou ao vê-la partir, se não estivéssemos ali, ela iria estar protegida, senti também indignação por ela não ter confiado em mim e pressentido que eu só queria ajudá-la. Pouco depois ela voltou envergonhada por sua condição, desejei que ela me ignorasse e viesse para junto, ela pareceu hesitante, depois veio em nossa direção, parou e me encarou, fingi que não a via para que ela achasse que estava chegando sorrateira e sem ser percebida, então minha sobrinha gritou e se agarrou em meu braço com medo, quase colocou tudo a perder, mas ela não fugiu como temi, apenas me encarou culpada como quem pedia desculpas pelo transtorno e chegou mais perto. Pedi a minha sobrinha que ficasse quieta para não amedrontá-la e ficamos esperando. Ela se aproximou mais um pouco meio desconfortável e se sentou ao nosso lado, olhava de soslaio e virava pro outro lado carregando a culpa por todas as desgraças do mundo em seu olhar, dois segundos depois levantou e partiu sem que eu pudesse retê-la. Dessa vez não voltou, ficou poucos metros depois encarando-nos com pesar, eu havia roubado seu lugar e isso me corroeu por dentro, então mesmo com toda a chuva que caia, partimos para outro abrigo e fiquei olhando-a desejando que ela tivesse confiado mais em mim. Ela se foi e eu a perdi de vista, decidi ir embora também sem me importar de ainda estar chovendo, mas a chuva não apagou sua imagem de minha cabeça, ainda agora ela está aqui vívida. Seu olhar me disse tantas coisas, inclusive que sua vida foi uma tortura, já não havia mais confiança em seres de duas pernas. Como confiar em seres que não merecem a confiança de seus próprios semelhantes?
Agora me envergonho por saber que se culpam quando nós é que devemos nos culpar por tudo de ruim que causamos voluntária ou involuntariamente.