sábado, 27 de agosto de 2011

♥♥♥♥♥


Você vai me colocar dentro do sol é tia?
Uma pergunta sem o menor sentido aparente.
Cientificamente impossivel de ser concretizada.
Mas que diante dos enormes olhos pretos de cilios longuissimos e do sorriso tão radiante quanto um  sol de verão, conseguiu me levar mais além do que uma simples explicação cientifica poderia levar.
Colocar dentro do sol?
Sim, eu quero lhe colocar dentro do sol.
Se o sol significar a luz da felicidade, a cor da alegria, a paisagem de um horizonte hospitaleiro e benevolente.
Sim meu amor, eu quero lhe colocar dentro do sol.
Quero lhe oferecer o melhor que o mundo puder ofertar.  

sábado, 20 de agosto de 2011

Little Child (final)



Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds


The  Beatles(Lennon e McCartney)

- Como está se sentindo agora?
Limitou-se apenas em olhá-la sem quebrar o silêncio.
- Tem certeza que não quer conversar? Pode ser bom pra você se abrir um pouco.
- Sobre o que?
- Não sei, sobre sua mãe talvez. Ela tem aparecido com frequência ainda?
- Não! Ela me abandonou. – Respondeu magoado fazendo a amiga perceber que pisara em terreno perigoso de novo. Mas já que havia começado, decidiu seguir em frente.
- Mas ela gostava tanto de você?!
- Eu a decepcionei mais uma vez e ela não vai me perdoar. Não dessa vez.
- Mas pelo que você me dizia, achei que isso seria impossível. Ela te amava tanto.
- Eu fiz por onde. Sou um monstro. – Falou e socou a parede com fúria assustando-a, mas ele precisava de ajuda.
- Não! Você é uma pessoa boa...
- Não sou! – Falou aos gritos e se levantou encarando-a de muito perto com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar e as veias dilatadas dando-lhe uma aparência de insanidade.
- Eu te conheço e posso garantir que você é bom. Foi bom para o Paulo, foi bom para sua mãe...
- Mas não fui bom com você. Menti para você, lhe atraí para uma armadilha. Justo você que foi a única pessoa que sempre me entendeu, me estendeu a mão e me tratou como uma pessoa de verdade todo esse tempo.
- Do que você está falando? – Não conseguia entender nada, talvez fosse algum delírio insano. – Você é incapaz de prejudicar alguém. Te conheço como a palma da minha mão. Confio em você!
- Mas não devia! Eu não mereci sua confiança! – Começou a andar de um lado para o outro como uma fera enjaulada. – Confiar em mim foi um erro. Minha mãe não vai me perdoar nunca.
Ao vê-lo voltar a chorar, se levantou com a intenção de abraçá-lo e confortá-lo. Mas quando o fez, seus braços abraçaram o vazio.
Sentiu um frio gélido subir por seu corpo eriçando a pele. O que seria esse fenômeno? Estaria ficando louca?
Ao ver sua expressão, ele chorou ainda mais.
- Você também não vai me perdoar não é?
- O que está acontecendo aqui? Só pode ser um pesadelo...
- Eu não queria. Juro que não queria! Achei que estava curado por sua causa. Você era boa e confiava em mim...
Ela olhou em volta buscando um meio de sair correndo dali. Tentou lembrar-se do que realmente havia acontecido naquele apartamento, mas só havia um imenso vazio. Então era isso? Ele havia cometido um suicídio? Ela chegara tarde demais, sua luta fora inglória? Claro, só podia ser isso. E ela tonta achando que poderia ajudá-lo todo esse tempo.
- Como foi que isso aconteceu Leo?
- Você não lembra não é?
E era para lembrar? Então estava presente no momento do suicídio! Então por que não o impedira?
- Eu devo ter esquecido. Você não quer me ajudar a lembrar?
Ele a encarou com uma expressão dolorosa e emudeceu.
Antes que pudesse quebrar o silencio que reinara, o telefone tocou na sala e ela correu para atender na esperança de encontrar ali respostas para suas perguntas. Ele foi atrás para tentar impedir, mas chegou tarde, ela já havia tentado agarrar o aparelho.
Ela recuou apavorada ao tocar o vazio. Como um flash sua memória voltou com todos os detalhes quase visíveis. Lembrou-se de estar distraída olhando o porta-retrato em cima da mesa do telefone quando ele chegou por trás com um cadarço grosso e enlaçou seu pescoço estrangulando-a, apesar da rapidez da execução, ainda pôde divisar seu olhar misto de triunfo e prazer. Ainda ouviu sua voz sussurrar em seu ouvido: Perdoe-me, é mais forte do que eu.
E depois só o vazio e a escuridão.
- Por que você fez isso? Eu só queria te ajudar...
- Esse foi seu erro. Que direito você tinha de confiar em mim? A culpa por tudo isso foi sua. E agora que você já sabe, vá embora de uma vez e me deixe em paz! Deixe-me esquecer de tudo e seguir em frente com minha vida. Quero minha vida de volta...
- Você quer sua vida de volta?! E a minha quem vai devolver? Você me roubou a única coisa que me pertencia de verdade. E agora o que eu faço? Para onde vou, me diz?
- Para qualquer lugar. Aqui é que você não pode ficar. Eu não suportaria sua presença constante me lembrando que fui eu o responsável por sua desgraça.
- Eu não tenho mais nada, nem ninguém. Só me resta você, e eu me recuso a ficar sozinha. Recuso-me a ir embora.
- Mas eu não sei se aguentaria essa tortura.
- Não me mandes embora? Não me condenes a solidão, eu não suportaria.
Deitou no sofá resignado. Era justo que pagasse um preço.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Little Child (parte I)




Little child, little child
little child won't you dance with me
I'm so sad and lonely
Baby take a chance with me
The  Beatles(Lennon e McCartney)


Daniele acordou sentindo um vazio na cabeça, olhou em volta e não reconheceu o lugar que estava. Voltou a deitar esperando a sensação estranha passar quando ouviu um soluço. Decidiu procurar a pessoa que pelo visto precisava de companhia. Talvez o motivo do choro fosse apenas solidão.
O apartamento era minúsculo, não demorou a encontrá-lo prostrado no canto do quarto.
Ao vê-lo, teve certeza que o conhecia, sabia de sua dor, só não lembrava seu nome, algo bloqueara sua mente. Talvez houvesse tomado algum anestésico para dormir e esquecera-se de algumas coisas, o melhor seria esperar o efeito passar. Mas seu amigo estava precisando de ajuda.
Entrou de fininho com medo de assustá-lo como acontecera no dia anterior. Lembrava-se de sua expressão quando a vira, parecia apavorado.
Quando ele notou sua presença dessa vez, começou a chorar ainda mais alto. Mesmo assim se aproximou tentando tocá-lo, fazer um carinho. Queria confortá-lo. Ele a repeliu de forma enérgica.
- Vá embora, já pedi mil vezes que me deixe em paz. Eu quero ficar sozinho.
- Não vou te deixar! – Estava decidida a tentar ajudá-lo dessa vez. – Você precisa de mim!
Sentou-se na cama próxima a ele que se encolheu ainda mais.
- O que você quer de mim?
- Só quero te ajudar.
- E por que você iria querer me ajudar? Não mereço que ninguém me ajude. Só machuco quem eu amo. – Falou com amargura limpando o rosto com as costas da mão.
- Não é verdade, você é bom. Abrigou-me em sua casa e respeita meu espaço.
- Não! Eu não sou bom, eu sou um ser horrível! – Começou a gritar descontrolado deixando-a assustada.
Ela se levantou procurando manter distância enquanto ele socava a parede com violência.
Queria consolá-lo, dizer que tudo ficaria bem, mas não agora; ele a estava apavorando. Saiu do quarto tremendo e se sentou no sofá-cama onde acordara pouco antes e decidiu esperar o ataque de fúria passar.
Enquanto esperava, começou a lembrar de fatos que a ligavam ao amigo problemático. Agora sabia que ele se chamava Leo; que o conhecera pela Internet; se falavam há muito tempo e um sabia tudo sobre o outro.
Lembrava-se que no inicio da amizade havia tomado todas as precauções, não dera sequer seu nome verdadeiro, ele a conhecia por D.A. e ela o conhecia por Lucy. Só depois soubera que dera esse nome porque amava a musica Lucy in the Sky with Diamonds que era uma espécie de hino para ele.
Com o passar do tempo, a reserva foi se desfazendo, foram ficando íntimos. Lucy, ou melhor, Leo foi cativando-a com sua amizade sincera, contou-lhe seus problemas, falou-lhe sobre a mãe que amava a ponto de vê-la mesmo depois de morta, sobre a dor que sentira quando o pai foi embora e falou também de um papagaio que teve e que morreu engasgado. Para ela era uma historia engraçada a do bichinho, mas sabia que ele levava o caso muito a serio. Ora sua segunda maior perda na vida, a primeira fora a mãe. Ainda lembrava-se do carinho com que ele falava do querido Paulo, seu companheiro desde menino.
Enquanto lembrava-se das horas e horas gastas com ele na internet, um sentimento bom a invadia, uma sensação de carinho, de uma afetividade que os ligava ainda mais. Em pensar que temera tanto o primeiro encontro dos dois no passado? A primeira vez que o vira, fizera questão de marcar em um lugar publico e com muito movimento por medo de que ele fosse um maníaco e apesar de já se falarem até por telefone, não se sentia segura o suficiente para confiar cegamente nele. Mas quando o vira, todas as duvidas sumiram; foi como se já se conhecessem a milhões de anos.
Agora se lembrava até de como fora parar ali. Leo lhe telefonara desesperado, estava tendo uma crise de pânico e precisava de sua ajuda. Dizia que queriam matá-lo, que era perseguido por homens de capuz preto. Então não pensou duas vezes e por isso ainda estava lá, o amigo precisava dela.
Sabia que tinha o dever de voltar para casa, mas não agora, ele ainda não estava bem. E os pais não estavam merecendo que se preocupasse com eles. Estava fora há dias e eles nem deram um telefonema para saber como ela estava ou se estava precisando de alguma coisa.
Um tempo depois percebeu que o amigo estava silencioso, levantou e foi verificar se ele havia adormecido. Entrou cautelosa e sentou em silêncio ao lado dele que ainda estava acordado e no mesmo lugar de antes.
Ele era tão sozinho, parecia um menino desamparado. Tinha o dever de ajudá-lo, não o deixaria tão cedo...