quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Uma página de diário


Estou afastada daqui já faz um tempo, então decidi me forçar a romper esse silêncio e acabar com esse ócio literário postando uma coisa que é muito minha, mas que agora vai ser dividida com quem se interessar e quiser “perder tempo” lendo. Vou postar hoje uma folha antiga do meu diário, são coisas bobas que eu escrevia para matar o tempo e também para que não fossem esquecidas. Escolhi uma bem pessoal. Espero que ninguém se sinta ofendido.

26 de maio de 2006
15:28 hrs

Hoje pela manhã ouvi uma “brincadeira” que me ofendeu, na verdade, essas coisas sempre me ofendem. E me perseguem desde que eu me entendo por gente, aonde quer que eu vá, elas não mudam e a mais comum de todas é: “hei menina, você não conhece praia?” Então irritada solto uma exclamação de protesto qualquer e fico magoada. Sei que é bobo se ofender por tão pouco, mas é que já aconteceu tantas vezes que já me encheu.
Quando eu era bem pequena, tinha uns quatro, cinco anos, ouvia as pessoas se admirarem por eu ser tão transparente, a ponto de ficar azul quando sentia frio. Minha pele ficava pálida deixando visíveis veias roxas nas mãos e nos pés, as unhas e os lábios também ficavam roxos (se bem que ainda fico assim hoje) e isso me rendeu inúmeros apelidos que me levavam a fúria. Posso até enumerar alguns aqui: “lagartixa branca”, “velinha (diminutivo de vela)”, “morta (por causa da translucidez quando sentia frio)”, “leite”, “lagarta de coco ou bicho de coco (o que tanto faz, dá tudo na mesma)” e “fantasminha”.
Tudo isso me fazia me sentir uma estranha, um ser totalmente anormal, e até achava que era a única no mundo a ser assim. Hoje sei que não sou, graças a Deus, mas naquela época eu era pequena demais para entender isso, e sabe não é? O que a gente aprende em criança, leva para a vida toda, e o que eu trouxe comigo foi essa mágoa.
Nessa mesma época da coleção de apelidos, minha tia adotou uma bebê linda de pele negra, face redonda e olhos vivazes, e eu passei a admirá-la enquanto dormia no berço, sonhando em como seria se minha pele fosse igual a dela, cheia de viço e brilhante. Lembro que passava meio mundo de coisas na minha cabecinha, mas o que ficou foi esse desejo de ter a pele daquela cor e não mais ser motivo de chacotas.
Minha prima cresceu, assim como eu, e veio nos visitar nas férias, então enquanto conversávamos, surgiu entre a gente esse assunto e ela me revelou que sofre preconceito por causa de sua cor, que queria ser igual à mãe e as irmãs e que odiava quando lhe davam apelidos ainda mais pejorativos que os meus. Eu a compreendi tão bem!
Infelizmente o que as pessoas mais sabem fazer é serem cruéis com os próximos, e hoje sei que esse é um assunto delicado demais e requer muita compreensão da nossa parte, pois, se quisermos viver em harmonia, temos que aprender a ceder, isso não quer dizer que devemos alimentar e aceitar o preconceito e sim que não dá pra partir pra porrada toda vez só pra mostrar que eles estão sendo infames.
PS:. Pelo menos uma coisa boa temos hoje: conseguimos acabar com os apelidos. É, eu tenho um nome!

10 comentários:

  1. Pior do que a maldade e o preconceito alheio é dar poder a esse tipo de coisa. Você sempre foi assim, muito sensível e sem querer dava margem a essas coisas acontecerem e te afetarem. Quando era mais nova e tola tudo bem, mas até hoje vc ainda é assim, continua dando valor demai a opinião dos outros. Ora, vc sabe mesmo o que realmente importa, e a opinião do senso comum é a mais descartável de todas.

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  2. Isso se resume a ignorância alheia na alegria de ofender ao próximo, ate porque tem medo de sentir as próprias ofensas, e não acredito naqueles que dizem não tive a intensão de ofender, todos sabem o peso de suas palavras.
    Pessoas assim sempre irá existir.
    ps: eu ficava incomodada por me chamarem de magrela e todos os outros carinhos dessa parte.
    Bjokas Yane ^^

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  3. Belíssima postagem, Yane.
    Todos nós, em algum momento da vida, passamos por situações desagradáveis. Temos duas alternativas: sucumbir a elas, ou superá-las. Você superou, não tivesse superado, não teria postado. Parabéns!

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  4. Obrigada a todos pelos comentários, fico muito feliz quando passam pelo meu blog para ler as coisas que posto.
    José Eron Lucas Nunes, é um prazer saber que você gostou da minha postagem, e você tem razão, essa suscetibilidade e sensibilidade eu já superei, na época que escrevi, era uma adolescente, e faz parte do adolescente ser suscetível e sensível. Muito obrigada mesmo.

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  5. É um prazer te ter por aqui mila, seja bem vinda!
    Bjs!

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  6. Muito legal você dividir isso com a gente, Yane! Eu me identifiquei muito mesmo com você. Eu também sofri na (principalmente) adolescencia com hostilidades por diversos motivos. Gostei muito da sua frase "E sabe não é? O que a gente aprende em criança, leva para a vida toda, e o que eu trouxe comigo foi essa magoa". Concordo com você, nossa estrutura se forma neste periodo, o que fomos, o que aprendemos, o que o mundo ao nosso redor nos fez...ele moldou a pessoa que esta aqui hoje, querendo ou não, mudando ou não, sempre haverá o estigma. Aprendemos a lidar com ele, mas ele esta lá, e ele nos afeta, inevitavelmente. Mas aprender a lidar com pessoas é uma arte, e como toda arte leva tempo para ser aprimorada, você me parece no caminho certo!

    Obrigada por compartilhar. Se tiver mais, não hesite, estamos aqui p te ler! ^^
    Bjosss

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  7. Que bom que você gostou Beronique, fiquei muito feliz em saber.
    É verdade, aprender a lidar com pessoas é uma arte, e complicada por sinal.
    Eu até tenho algumas folhas na gaveta guardadas, mas confesso que tenho visto que nesse meio da fantasia, não cabe a realidade.
    Quando estiver com tempo disponível, vou buscar no meio delas uma que mereça um destaque.
    Obrigada por prestigiar meu cantinho.

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  8. Oi Yane, fiquei muito contente de ter retornado, estive pensando se havia desistido do blog, e eis então que resurge a fênix!
    Tbm já fui alvo de piadas infames, coisas que até hoje ainda passam pela minha cabeça, e me pergunto por que temos de passas por situações tão constrangedoras? Cativo ainda minha indignação e quanto li suas palavras compreendi perfeitamente suas inquietações. Coisas bobas? Não. O passado sempre faz o que a gente é hoje, e a força disso tudo vem de quanto olhamos para trás e percebemos que não desitimos de nossos sonhos...

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  9. Boa Noite minha querida vim aqui no seu maravilhoso cantinho me desculpar por meu sumiço, infelizmente não tenho mais tempo de passar blogs como antes, porém o Amor Imortal está fazendo 1 aninho e não podia deixar de vir aqui te agradecer por tudo e te convidar para a promoção que fiz especialmente para amigos tão especiais como você: http://amorimortall.blogspot.com/2011/12/mega-promocao-de-aniversario-de-1-ano.html
    Participe.
    beijos

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  10. Obrigada Laísa pelo comentário.
    Eu não desisti do blog, só estou meio sem tempo, não vejo a hora das ferias chegar para me dedicar a ele.
    Fiquei feliz por meu post ter agradado.

    E GIZA, parabéns pelo aniversário do blog, quando puder passarei lá para conferir as novidades.

    Beijos meninas.

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