... Luiza estava ajeitando os laços da
roupa em frente ao espelho quando Netinho entrou no quarto e começou a puxá-la
apressado e agitado demais para dizer qualquer coisa, resmungando apenas um “vem ver” quando era interrogado, guiou-a
para a cozinha do casarão dos bisavós e mostrou um cesto com filhotes de cães
sem raça definida, graciosos e peludos. Ele estava encantado com os filhotinhos,
nunca vira um antes, os olhos brilhavam de expectativa.
Ela lembrou-se do dia em que Ulisses e Penélope
chegaram da mesma forma naquele mesmo ambiente, era como se a historia estivesse
se repetindo. Ela e Rosa quiseram tanto os felinos, a ponto de implorar para
ficar com eles, no fim acabaram conseguindo, mas com o filho seria diferente,
por mais que ele chorasse e implorasse, jamais poderia ficar com o cãozinho.
Tivera que abrir mão do gato pelo bem dele, não colocaria outro em seu lugar.
Netinho chorou e implorou, mas a mãe
estava irredutível. Ele não entendia que o pêlo do animal representava um
perigo para sua saúde, e por mais que a mãe argumentasse, ele tinha um contra
argumento convincente. Os pais e os avós também argumentaram a favor do
pequeno, mas ela foi obrigada a desobedecê-los dessa vez, há exatamente três
anos foi induzida a doar Ulisses pelo bem dele e era pelo bem dele que estava
recusando o filhote agora. Netinho tinha saúde frágil e exigia muitos cuidados,
viajara pela primeira vez para o campo com milhares de recomendações do médico
e cada soluço deixava-os alerta.
O pequeno foi às lágrimas de fato diante
da negativa, aconchegou-se no corpo da mãe e soluçou aos prantos deixando Luiza
constrangida. “Porque você puxou ao seu
pai, tão suscetível meu bem? Antes tivesse saído a mim, forte e com brios.”
Ele não entendeu as palavras da mãe e apenas soluçou: “Eu o quero mamãe, queria meu amiguinho pra mim...”
Diante do sofrimento real do pequeno, Aurélia
pediu à filha que permitisse ao menino ficar como dono do pequeno mesmo não
podendo levá-lo com ele aonde fosse, o animal seria criado na casa grande e ele
só o veria nas férias quando fossem lá. Netinho aprovou a ideia, só queria ser
o dono e poder dizer que tinha um amiguinho só seu. Luiza finalmente cedeu e
permitiu que o filho ficasse com o bichinho levando-o do pranto ao riso. Ele
era muito belo rindo, tinha as feições de Rosa, os cabelos negros e escorridos
como os dela, o sorriso meigo e os olhos amendoados, talvez esse fosse o maior
motivo de amá-lo tanto. Otávio só era lembrado no temperamento e na
fragilidade, não que ela não amasse o marido, só não tolerava a falta de
atitude dele, se fosse mais dono dos próprios atos talvez tivesse mais valor
diante de seus olhos...
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