domingo, 8 de maio de 2011

Encontro marcado




Eram quase sete e meia da noite e ela ainda estava no escritório presa com um relatório urgente, mas sua cabeça estava em outro lugar, mais precisamente em sua casa ou em quem a estava esperando lá. Tinha um encontro importantíssimo e iria chegar atrasada pra variar. Precisava se concentrar no trabalho para terminar logo e não perder mais tempo, senão só chegaria em casa nove e meia, isso se o trânsito fosse condescendente com ela.
Olhou novamente para o relógio ao lado do monitor do computador, sete minutos para as sete e meia, só mais uma revisão e estaria pronto, sairia a tempo.
Finalizou o trabalho, imprimiu e entregou ao chefe, que o aprovou e a dispensou, podia ir embora finalmente.
Ele sempre ressaltava sua competência e disponibilidade, uma funcionária exemplar, digna de toda confiança. Havia conseguido chegar onde muitos desejavam estar, mas por puro mérito seu, amava o que fazia, era uma mulher realizada, mas infelizmente só na vida profissional, por que na pessoal, tinha muito que lamentar.
Pegou a bolsa e a chave do carro e correu para o elevador: “Será que ele ainda a estaria esperando, ou havia desistido”?
Abriu a porta e entrou, apertou o T e desceu, pegou o carro na garagem e partiu para a estrada movimentada. Parecia que todo mundo tinha pressa de chegar, ou seja, não chegariam tão cedo a lugar algum. O trânsito lento, o barulho, as buzinas irritantes se juntaram a frustração de ver a hora se esvair sem avanços fazendo seu humor minar pouco a pouco.
Parou o carro no estacionamento do prédio as dez em ponto, meia hora depois do esperado e subiu no elevador derrotada. Tinha certeza que ele não aguentara esperar tanto, estava mais que atrasada. Perdera as contas de quantas vezes furara com ele, quantas vezes o fizera esperar em vão.
Seguiu pelo corredor procurando as chaves de casa em meio ao buraco negro que era sua bolsa, quando achou, já estava em frente à porta. Abriu e entrou esperançosa, mas só encontrou o vazio, o silêncio de sua sala escura e triste. Ele já dormira, ela furara mais uma vez.
Jogou as chaves na mesa de centro e foi até seu quarto também vazio, largou a bolsa em cima da cama e foi até o banheiro lavar as mãos e o rosto. Depois foi até o quarto ao lado dar pelo menos um beijo de boa noite, sentir seu perfume doce e contemplar sua face rosada.
Entrou de fininho e acendeu a luminária clareando o quarto com a luz azulada e agradável. Lá estava ele, dormindo em seu berçinho quente e confortável, a expressão tranqüila, as pálpebras serradas, as bochechas rosadas...
Passava o dia todo com aquela imagem tão perfeita na cabeça, recordando sem cessar todos os detalhes, com o coração apertado por estarem longe um do outro. Seu filho crescia longe de seus olhos e de suas asas, mas não podia reclamar, fora por escolha própria. Escolhera ser mãe, mesmo sabendo que não poderia abrir mão da vida profissional por isso. Pois, ser mãe era muito mais que amar e cuidar, era educar, alimentar, vestir e se doar... Se doar sim, por que era por ele que ela sofria dia após dia atrás de uma mesa de escritório, tendo que se superar dia após dia pra ser boa no que fazia, era por ele e para ele que se dividia em tantas sendo uma só.
Sabia que ele não compreenderia, e não iria compreender até que fosse adulto, mas não fazia diferença, não se arrependeria nunca por ter escolhido ser dele, mesmo sabendo que havia tanta coisa em jogo. A única coisa que lhe cabia nesse papel que escolhera, era amar de longe, sofrer de longe e esperar uma recompensa que nunca chegava.
Pegou na mãozinha rosada e aquecida, beijou a palma e sentiu o cheirinho de sua pele.
Ele fechou a mão em volta do dedo polegar da mãe e apertou, depois relaxou e soltou lentamente. Só queria senti-la, mesmo não tendo conseguido esperar acordado, sabia que ela estava ali agora. E essa era sua forma de dizer isso.
Sara se deixou ficar por algum tempo e depois foi tomar banho. Pensou em muita coisa ao lado dele, mas no fundo sabia que não podia se culpar pra sempre, ela não era a única mãe no mundo a passar por isso.

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