sábado, 14 de julho de 2012

Fragmento de um romance



Aline desceu do ônibus e viu Cadu indo para casa, não perdeu a oportunidade e correu em sua direção, quando chegou perto gritou: me dê uma carona! Depois pulou nas costas dele fazendo-o perder o equilíbrio. Se já não estivesse tão acostumado com esse hábito dela, teriam caído os dois no chão. Ambos riram e ele a levou para casa ouvindo a novidade que a estava deixando tão feliz.
- Consegui o emprego! Meu primeiro emprego!
- Sabia que você ia conseguir, temos que comemorar... Começa quando?
- Segunda feira. Não vejo a hora. Nem acredito que vou poder pagar minha faculdade, comprar minhas coisas sem depender de vovó...
Cadu a colocou no chão em frente a casa onde ela morava com a avó e os dois se sentaram no banco de cimento em baixo da amendoeira onde Dona Marina passava as tardes bordando. Ela explicou como havia sido a entrevista detalhe por detalhe, falou também das cargas horárias, salário e transporte. Ele não ficou satisfeito, achou que ela merecia mais, mas como ela estava contente preferiu não desapontá-la.
Aline e Cadu se conheciam desde pequenos, quando a mãe dele se mudara para a vizinhança. Ele tinha então quatro anos e ela três, mas já era sapeca e amigável. Ela o viu uma vez e já falou com ele como se fossem velhos amigos, tinha um sorriso faceiro e falava pelos cotovelos. Ao menos essa característica conservava até hoje, parecia que tinha engolido uma vitrola quebrada, pelo menos era o que dizia Dona Marina. Segundo a avó, ela tinha tanta pressa em falar que se esqueceu de andar, andou tarde, mas falou muito cedo, por pouco não nasceu tagarelando.
Mas o que Aline tinha de espevitada, Cadu tinha de calmo, sempre fora muito tranquilo e não dera trabalho nenhum à mãe para criá-lo, um era o oposto do outro.
- Me diga agora o que você vê?
- Vejo um futuro azul claro com nuvens de algodão branquinhas aonde iremos nos deitar e descansar depois de um dia muito corrido e muito sacrificado.
- Ah, deixa de ser pessimista, vai ser gratificante também.
- Você tem razão, é muito gratificante, dá uma sensação de poder, de liberdade que só sentindo para saber. É muito bom crescer, você vai ver.
Aline sorriu vislumbrando tudo que ele disse com uma sensação de que ia amar tudo aquilo. Ia ser muito bom crescer...

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