Aline desceu do ônibus e viu Cadu indo
para casa, não perdeu a oportunidade e correu em sua direção, quando chegou
perto gritou: me dê uma carona! Depois pulou nas costas dele fazendo-o perder o
equilíbrio. Se já não estivesse tão acostumado com esse hábito dela, teriam caído
os dois no chão. Ambos riram e ele a levou para casa ouvindo a novidade que a
estava deixando tão feliz.
- Consegui o emprego! Meu primeiro
emprego!
- Sabia que você ia conseguir, temos que
comemorar... Começa quando?
- Segunda feira. Não vejo a hora. Nem
acredito que vou poder pagar minha faculdade, comprar minhas coisas sem
depender de vovó...
Cadu a colocou no chão em frente a casa
onde ela morava com a avó e os dois se sentaram no banco de cimento em baixo da
amendoeira onde Dona Marina passava as tardes bordando. Ela explicou como
havia sido a entrevista detalhe por detalhe, falou também das cargas horárias, salário
e transporte. Ele não ficou satisfeito, achou que ela merecia mais, mas como ela
estava contente preferiu não desapontá-la.
Aline e Cadu se conheciam desde pequenos,
quando a mãe dele se mudara para a vizinhança. Ele tinha então quatro anos e
ela três, mas já era sapeca e amigável. Ela o viu uma vez e já falou com ele
como se fossem velhos amigos, tinha um sorriso faceiro e falava pelos cotovelos.
Ao menos essa característica conservava até hoje, parecia que tinha engolido
uma vitrola quebrada, pelo menos era o que dizia Dona Marina. Segundo a avó,
ela tinha tanta pressa em falar que se esqueceu de andar, andou tarde, mas
falou muito cedo, por pouco não nasceu tagarelando.
Mas o que Aline tinha de espevitada, Cadu
tinha de calmo, sempre fora muito tranquilo e não dera trabalho nenhum à mãe para
criá-lo, um era o oposto do outro.
- Me diga agora o que você vê?
- Vejo um futuro azul claro com nuvens
de algodão branquinhas aonde iremos nos deitar e descansar depois de um dia
muito corrido e muito sacrificado.
- Ah, deixa de ser pessimista, vai ser
gratificante também.
- Você tem razão, é muito gratificante, dá uma sensação de poder, de liberdade que só sentindo para saber. É
muito bom crescer, você vai ver.
Aline sorriu vislumbrando tudo que ele
disse com uma sensação de que ia amar tudo aquilo. Ia ser muito bom crescer...
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