quarta-feira, 23 de março de 2011

John ( Parte Final)

            
John ficou trancado no escritório até o anoitecer. Mary-ann e Lionel o aguardaram pacientemente.
- Você viu como Mr. Jones ficou apavorado hoje cedo. – Lionel ria enquanto relembrava. – Pobrezinho, deve achar que somos um bando de loucos.
- Ou coisa pior não é? Já pensou como devem nos ver os de fora? Temos hábitos incomuns, moramos em casas sombrias, economizamos a luz do dia, encerramos as janelas com cortinas pesadas, só eu me alimento, só eu durmo e só eu tenho uma coloração comum na pele. Sem falar nos estoques de sangue para transfusões diária nos doentes.
- Já havia me esquecido que pensamos e vivemos diferentes de todos os outros.
Enquanto conversavam alguém bateu na porta do quarto. Quando interrogaram de quem se tratava, John respondeu do outro lado. Mary abriu a porta aflita.
- Papai, o que aconteceu? Estamos esperando-o desde cedo.
- Não se preocupe, foi só um dissabor, estou melhor agora. Vim avisar que vamos partir ainda hoje, arrumem suas coisas.
- Então o senhor vem conosco?
- Sim, não tenho mais nada a fazer aqui. Lionel tem razão, essa não é mais a nossa Londres. – Mary percebeu muita tristeza na voz dele.
- E o que o fez tomar essa decisão? O que foi que Mr. Chapman lhe disse para que decidisse isso?
- Ele disse que não há mais o que fazer, não existe mais nenhum descendente nosso vivo. Todos se foram, a última delas faleceu ontem à noite. Morreu muito jovem devido à miséria em que vivia. Aparentemente não deixou nenhum herdeiro.
- Oh! Sinto muito!
- Em apenas dez anos, destruíram toda a herança que lhes deixei, não deram valor ao meu esforço, a minha luta. Como foram parar naquele beco imundo? Eu não entendo. Como foram empobrecer dessa maneira?
- Gastar dinheiro é muito fácil vovô, principalmente o que se ganha sem nenhum esforço, de mão beijada. Não deve se culpar, o senhor fez o que pôde.
- Tudo bem. Vamos esquecer essa história de uma vez e vamos embora.
Quando terminou de falar, o bebê grunhiu na cama envolto nas cobertas. Todos o olharam.
- E o que faremos com ele papai?
- Eu havia me esquecido completamente. Acho que podemos abandoná-lo em algum convento na passagem...
- Isso não. Eu não vou permitir. Prometi a mãe dele que o protegeria, não posso simplesmente jogá-lo em qualquer beco. E não vou deixar que o senhor faça isso.
- Como assim prometeu a mãe dele? Você a conhecia então?
- Sim. E ela me fez prometer que não o deixaria desamparado quando ela partisse. Ele era a única razão dela ter resistido tanto à doença. Mas infelizmente acabou morrendo a noite passada e eu me encarreguei dele desde então.
- Mas como você a conhecia Lionel? Estamos aqui há tão pouco tempo. Como pode ser isso?
- Faz alguns dias eu estava andando pela cidade à noite, então ela me chamou a atenção, estava passando mal e eu fui ajudá-la. Quando me viu, achou que eu era um anjo da morte e havia ido buscá-la, me implorou que não a levasse, pois tinha um filho para criar e precisava viver por ele. Disse-me que não tinha mais ninguém no mundo, era viúva e só.
Por mais que eu tentasse explicar que só queria ajudá-la, não me ouvia, estava delirando. Em meio aos delírios fugiu de mim e eu a segui até em casa. Entrei pela janela e cuidei dela a noite toda, estava queimando de febre. Cuidei dele também, quando adormeceram, parti com o dia clareando. Voltei lá todas as noites desde então. Em um momento de lucidez, ela me fez prometer que cuidaria de seu filho quando se fosse, que não o deixaria desamparado. Fiz o que pude, mas ela não resistiu. Então o trouxe para cá para cumprir a promessa que lhe havia feito.
- Ai Lionel, o que faremos agora?
- Eu já disse, cuidaremos dele. Devo isso a Jane... – Não devia ter dito, mas já era tarde.
John o olhou surpreso.
- Que Jane, Lionel?
- Não era Jane, eu me confundi, nem sei o nome dela na verdade.
- Você está me escondendo algo e eu quero saber o que é!
- Não estou escondendo nada John!
- Desculpe-me, estou sendo injusto com você. Sei que não fez nada de errado, tenho plena confiança em seus atos. Desculpe-me de verdade.
Lionel baixou a cabeça em silêncio. John percebeu que o magoara mais uma vez.
- Não fique assim Lionel, diz alguma coisa, me xingue, me bata... Mas não me odeie.  
- Eu nunca o odiei, não sou esse monstro que pensas, não sou um imaturo e inconsequente como dizes. Apesar de tudo tenho sentimentos e tenho orgulho próprio.
- Sei disso, sei muito mais que você imagina. Sei que você me salvou, também salvou a Mary dez anos atrás, e sei que sem você eu não teria chegado aonde cheguei. Se sou o que sou, só devo isso a você Lionel. Mais uma vez lhe peço perdão.
Lionel estendeu a mão em consentimento para selar a paz entre ambos. John o puxou e enlaçou em um abraço. Depois fez cafuné desalinhando a cabeleira cor de mel do neto enquanto ele tentava se desvencilhar.
- Eu queria que o senhor soubesse que lhe entendo. – Falou ajeitando os cabelos e se recompondo do abraço de urso. – Eu sei o quanto era importante para o senhor resgatar o passado. Também sinto falta de meus irmãos, meu pai e minha mãe. Mas sempre achei que seria inútil procurar por alguém que não voltaria mais. Achava que era loucura sua.
- E era, você sempre esteve correto, eu fui um louco.
- Não foi não vovô. Eu também conheci uma moça idêntica a Jane. Por um momento achei que era minha mãe que havia voltado para nós. Mas era só uma coincidência...
- Onde? Como você conheceu essa moça?
- Aqui em Londres mesmo e como já lhes contei. Era ela a jovem que me pediu ajuda, e eis o por que de eu ter feito o que fiz por ela. Foi como se tivesse tido a oportunidade de ter Jane perto de mim mais uma vez. Era como se estivesse diante de mamãe, como quando tudo era real e palpável. Quando morávamos no campo, trabalhávamos na terra, riamos de tudo, cantávamos e tínhamos amigos. Tudo nela lembrava mamãe, a voz, o sorriso, a face...
- Então era ela esse tempo todo, era a pessoa que busquei todos esses dias. E este bebê era seu descendente! Meu descendente...
John ficou emudecido, todo tempo tivera em suas mãos o que procurava.
Ainda havia esperança, ainda havia alguém por quem lutar, ainda havia um motivo para a vida continuar fazendo sentido.
John pegou a pequena criatura lamurienta da cama e ficou fitando seus traços tentando se reconhecer ali, e de repente tudo passou a fazer sentido, não importava quanto tempo se passasse, quantos desencontros ocorressem, um dia Jane e Matt voltariam para ele, só precisaria esperar e não perder a esperança.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. O final foi bem brusco, parece que vc estava com pressa de acabar, mas ficou legal mesmo assim. Gostei da estória e acho que vc devia trabalhar nela, continuar, encher de detalhes, ficaria muito legal a estória é boa, corrigindo, é excelente, invista nela.

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