domingo, 1 de maio de 2011

O Mar

Há coisas na vida difíceis de compreender, dormimos e quando acordamos nada mais é como antes. Não sei como foi, senti uma dor muito grande quando vi.  Foi como se tudo que vivi não tivesse valido a pena. O mar lava a terra e apaga todos os passos que demos, todos os sonhos que tivemos, todos os momentos belos que tivemos.
Ainda agora olho para o mar e não acredito que ele foi tão implacável conosco.  Todos nos avisaram que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde, mas não quisemos acreditar.  Achei que não estaria mais viva para ver. E de repente acordo e o que vejo é destruição, fúria e revolta.  Muita revolta.
É preciso ir, mas não consigo desenterrar os pés dessa areia quente que os calejaram.  Onde antes havia a calma serena de um rio, agora habita as ondas furiosas do mar que o destrói.  Onde havia coqueiros belos e altos, restam raízes arrancadas à força de seu berço. Onde havia casas simples e aconchegantes, apenas destroços.  Os barcos, apenas madeiras pintadas e sem nenhum valor. O mar se aproxima mais e mais das casas restantes.  Logo será a minha que irá adormecer no fundo do que fora o meu sustento um dia, do que fora o meu medo e minha alegria.
Está sendo difícil ir e deixar este lugar. Não tenho mais para onde ir, estou velha demais para bater asas e voar para outro lugar. Aqui nasci e me criei. Uma vez ou outra é que pegava a barca e ia à feira da cidade, mas logo voltava a pisar no meu reino querido onde muitas vezes fui princesa e fui rainha na minha imaginação de menina, onde tudo era belo e simples.  
Lembro-me perfeitamente de tudo. Vejo um filme passar diante de meus olhos e me admiro como minha história está entrelaçada com a deste lugar e com a deste rio que se foi quando nunca imaginávamos que isso aconteceria.
E é nesse lugar que estão os meus pais, meus irmãos, meus filhos e netos que já se foram. Agora todos ficarão para trás, como se mais de sete décadas não fizesse diferença. Vou arrumar minhas riquezas, tudo o que posso carregar e o resto vou deixar para o mar. Não posso deixar que ele  leve os meus bordados de anos e anos guardados, os quadros dos meus mais caros parentes, os meus livros que já não me dizem mais nada, mas já me fizeram feliz há tempos atrás, e, as mais belas lembranças que possuo e que mar algum levará.


2 comentários:

  1. Puxa,que profundo e triste, nos faz lembrar de tragédias grandes e tragédias corriqueiras, que acontecem ao longo dos anos com os que nada podem fazer contra a força da natureza, e aqueles que são devastados em questão de minutos pela fúria dela. Adoro histórias do mar ^^!

    Grande beijo Yane, espero que esteja correndo tudo bem ai!

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  2. oi.gostei bastante do seu blog e estou seguindo.
    gostaria de te convidar para me seguir e visita.
    beijos

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